
Palavra do Muito Poderoso Grande Comendador 33o
CIDADANIA E POLÍTICA
"Progresso da Humanidade" significa uma ordem de fatores e determinações que contribuem para a evolução da coletividade e para a construção do real trabalho maçônico. Em se tratando de um tema tão complexo e atual, a contribuição da maçonaria é a própria missão de elevar o conhecimento e transmitir o mesmo para que a verdade seja revelada e que os homens possam se tornar livres e iguais, em possibilidades, criações e oportunidades.
Rememorando a polis grega aristotélica, estamos transmitindo o espaço de saber construído onde os homens livres podiam exercer a cidadania e a plena vida em comum. A construção da coletividade era elucidada para a construção de um bem comum, uma vida outrora contemplativa para uma vida de ação, de construção.
Os Franco Maçons pertencentes à Ordem Maçônica Mista Internacional, “Le Droit Humain”, unidos aos seus fundadores M:.Il:.Ir:.Maria Deraismes e M:.Il:.Ir:. Georges Martin, assumiram o compromisso fraternal, em prol do progresso da humanidade, pautado por um método ritualístico e simbólico que possibilita o aperfeiçoamento humano do cidadão, para o exercício da cidadania na via social da polis; tendo presente a importância da ação política ética, comprometida com a efetivação da dignidade humana.
Os princípios fundadores da nossa Ordem determinados na Constituição Internacional ao proclamar o Direito Humano, o faz no sentido de contribuir para o bem da humanidade e para o seu aperfeiçoamento na prática da justiça social. Forjados pelo Silêncio, pelo uso moderado e disciplinado da Palavra e pela prática da Tolerância em ouvir e respeitar opiniões dos Irmãos com os quais nem sempre concordamos (e que bom que é assim), um maçom é o construtor de pontes entre as diferenças, e está preparado e reiteradamente moldado para atuar no espaço aberto da nossa Sociedade.
O Maçom que nega participação social, sendo a forma e intensidade dessa participação, uma questão de foro íntimo de cada irmão, deixa de exercer um oficio para o qual é “talhado”: ouvir, propor, debater, compreender e respeitar as opiniões contrárias. E, a finalidade de nossa Ordem, está aliada à edificação do templo para o progresso e aperfeiçoamento da Humanidade. Logo a nossa postura e atitude como cidadãos, fora do templo, vai nos exigir uma compreensão das questões de cidadania e da política, de forma histórica e crítica em um contexto social.
O vocábulo cidadania é de origem latina – civis, (ser humano livre) que pressupõe o sujeito com direitos e deveres. O filósofo grego Aristóteles afirmava que para ser considerado cidadão não bastava nascer na Grécia e sim participar dos acontecimentos da vida pública, exercer o poder de governar e ser governado pelos demais. Portanto, o exercício da cidadania era considerado um pilar da democracia, onde os cidadãos eram chamados a ocupar cargos alternadamente. O poder político na vida social da polis. A política como palavra Grega significa polis (cidade).
O homem é um ser social e político. Ficar de fora desse contexto é contribuir com a tirania por meio da corrupção, da injustiça e da violência, praticada hoje contra as Nações pelos que se dizem atualmente, os donatários do sistema vigente, repleto de injustiças sociais.
A maçonaria é realmente uma escola de ética e precisamos trabalhar em nossas Lojas, arduamente, na “formação de líderes” em todos os graus. Este é um dos principais objetivos da Franco Maçonaria Universal: “O aperfeiçoamento individual e a ação em grupo”. Nossa postura e atitude fora do templo precisa estar pautada por fazer uma leitura crítica da realidade sócio histórica a nível local, regional e nacional, para que possamos analisar as questões emergentes, por meio de uma prática dialógica capaz de elencar ações para minimizar os problemas identificados. Não haverá outro caminho para exercermos a nossa cidadania senão pela política, seja de maneira individual ou coletiva. Temos projetos de vida individual e coletivo diante do projeto de sociedade democrática da qual fazemos parte.
Os projetos se complementam ao fixarem os objetivos comuns como o exercício da cidadania na prática política cotidiana.
Livre e de bons costumes, o Maçom atua, constantemente, na sociedade a que pertence, de inúmeras maneiras e valendo-se de diversos meios pelos quais possa influenciá-la. Ele, portanto, exerce um papel importante, na medida que, sendo de origem variada, ele permeia todos os estamentos sociais e se faz presente nas mais distintas e importantes funções, seja no serviço público, quando a ele estiver vinculado, seja na iniciativa particular, se é ali que desempenha o seu trabalho. É importante para todos nós, portanto, ter uma percepção o mais exata possível e um entendimento tão amplo quanto se possa atingir, desse papel que todos sabemos existir, mas nem todos conseguimos delimitar muito bem.
O Maçom não tem um, mas sim, muitos papeis a desempenhar na sua comunidade, no seu meio social, na sua cidade. Ele é o portador de uma mensagem oculta nas suas ações, atitudes e iniciativas, servindo como um portador de comportamentos que servirão de modelo para os que o cercam. Ele atua individualmente, no seu trabalho, nas suas horas de lazer e descanso, na sua família e entre os seus amigos. Também age como ser social, incorporado àquelas instituições que tratam de resolver os problemas da sociedade, agindo em conjunto com os poderes públicos e as organizações não governamentais, em benefício do bem-estar coletivo e da paz social. E opera nas ações de beneficência, como integrante das forças que trabalham para mitigar as necessidades dos menos afortunados.
A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. A cidadania formal é referente à nacionalidade de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada nação. A cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacionada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britânico T.H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada de direito civil, político e social.
Com o passar dos anos, a cidadania no Brasil sofreu uma evolução no sentido da conquista dos direitos políticos, sociais e civis. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, tendo em conta os milhões que vivem em situação de pobreza extrema, a taxa de desemprego, um baixo nível de alfabetização e a violência vivida na sociedade.
A ética e a moral têm uma grande influência na cidadania, pois dizem respeito à conduta do ser humano. Um país com fortes bases éticas e morais apresenta uma forte cidadania.
Vivemos momentos de grandes modificações em nosso país. Devemos ter uma atenção redobrada com nosso comportamento, nossas posturas, e principalmente em nossas manifestações quanto ao momento atual.
Em nossos templos estamos sempre envolvidos no sentido de desenvolvimento e aperfeiçoamento do ser humano e da humanidade, ouvimos e recitamos excelentes peças de arquitetura, e nos posicionamos sempre de maneia correta e gentil. Porém ao fazer uma análise de meu comportamento fora das nossas reuniões me pergunto: Estou dando a minha contribuição à sociedade de uma forma correta? Tenho contribuído para melhoria social e Política de meu País? Como tenho me comportado em sociedade?
Somos muito autênticos ao falar e agir e com uma tendência ímpar de mostrar nossas capacidades, somos fortes, honestos temos inúmeras virtudes, mas incapazes de notar nossas falhas. Somos Justos, Perfeitos, Puros e sem mácula homens e mulheres livres e de bons costumes.
Estamos atravessando uma época de grandes mudanças n nossa cidade, nosso país e no nosso mundo. O Rio de Janeiro mostrou ao Mundo que é capaz de sediar grandes eventos com um ótimo desempenho. O Brasil está travando uma luta contra os corruptos e mais poderosos personagens em toda a nossa história. E o Mundo enfrentando todos os tipos de horrores sejam eles das guerras, sejam do poder econômico.
Na prática, todos nós vivenciamos diuturnamente o exercício da cidadania ou sentimos a sua falta e podemos em maior ou menor grau indicar os inúmeros direitos e deveres que a integram. De acordo com a moral da sociedade os direitos e os deveres vão sendo agregados, ampliados ou excluídos conforme interesses sociais momentâneos, visando sempre o alcance de uma igualdade na dignidade social e econômica. Assim, todo cidadão tem sua existência acompanhada do exercício de direitos definidos e do direito de participação e, dos deveres de colaboração e solidariedade.
A cidadania é diferente de política, mas não pode ser feita independentemente dela. A política é uma ciência que tem como objetivo a administração das relações do homem dentro da sociedade, buscando os meios mais eficientes, eficazes, harmônicos, éticos, justos e equilibrados, contemplando a todos o direito comunitário e também os deveres comunitários. A política, portanto, tem que ser exercida com base na cidadania, exclusivamente em função e em razão dela, pois do contrário deixa de ser instrumento para ser uma arma e deixa de ser bênção para ser uma provação.
E neste momento tão conturbado creio que se faz necessário um posicionamento de cada Maçom, sobre o que devemos e podemos fazer para auxiliar nas mudanças que estão a caminho e que sem dúvida não há como não participar, de uma forma mais intensa, ou simplesmente mudando pequenas ações no caminho do Bem da Humanidade ou da Ordem em geral.
A cidadania é um dos mais importantes fundamentos da república, ela não se consuma apenas com o direito de votar e de ser votado, já que, o ato de votar, não garante nenhuma cidadania se não for acompanhado de certas condições de nível político, econômico, social, cultural e jurídico. Muito embora a ideia da cidadania seja uma ideia eminentemente política que não está necessariamente ligada a valores universais, mas a decisões políticas (aqui precisaríamos de longo debate do que seria política).
O homem é por natureza um ser social, sozinho não pode vir ao mundo, não pode educar-se e crescer, sozinho não pode satisfazer suas necessidades mais elementares, ele somente pode obter isto em companhia dos outros. O primeiro encontro do homem é com a família e com os grupos sociais, no início bem pequeno e depois com a cidade e o estado. É na família que começamos a aprender que vivemos em sociedade, é onde os nossos direitos e deveres primeiros surgem, quando aprendemos onde jogar o lixo, que o outro merece respeito e que a nossa casa, nossa cidade, nosso estado, nosso país são partes de um todo. Assim sendo precisamos de interação constante com os indivíduos da sociedade para promover processos de mudança. A ordem maçônica que propaga ser uma escola formadora está relacionada intrinsecamente ao comportamento do maçom dentro e fora do templo.
Sob o ponto de vista espiritual um de nossos papéis é nutrir o potencial latente para manifestá-lo e atrair o surgimento do novo. Diante da imagem universal nos confrontamos com nossa humanidade e consciência como parte do universo e entendendo fazer parte do infinito.
Ao vislumbre da luz, a alma que habita interiormente já detecta. Surge o desejo de satisfazer as necessidades dos outros tornando a pessoa paulatinamente um doador ao invés de um tomador.
Perceber o sucesso ou o fracasso, reconhecendo-os e as lições aprendidas lentamente, contribuem para o desenvolvimento de um caráter responsável, amoroso, individual e coletivo.
Devemos colocar em prática o real sentido da simbologia maçônica em nossas vidas e na vivência em sociedade. Fazer auto avaliação de como se está usando o esquadro, o compasso, o nível e a régua, em nosso dia a dia. Avaliar sua ponderação e capacidade participativa em sociedade. Lembrar-se do compromisso de trabalhar pelo progresso da humanidade e ter postura como cidadão, dentro r fora do templo. Nossa ética, com o coletivo, deve ser a mesma do mundo individual.
Cabe ressaltar aqui, a grande importância da alfabetização política, da compreensão de seu valor para a formação da consciência histórica e crítica de crianças, jovens e adultos frente ao seu papel social como sujeitos da história, como agentes de transformação. Como já dizia o emérito educador Paulo Freire “educação é politica”, pois envolve um projeto de nação, envolve escolhas de políticas públicas, para formar cidadãos críticos para a convivência amorosa, ética e responsável na vida da polis. Somente cidadãos conscientes de seus direitos e deveres para com a sociedade são capazes de agir de forma responsável, ética e solidária. Sendo assim, serão capazes de politizar os espaços públicos e privados, fazendo a grande diferença na vida em sociedade.
Devemos como Maçons, estar atentos ao bom entrelaçamento da política e da cidadania, observando principalmente o bem comum coletivo e a felicidade de todos os seres viventes. A Maçonaria não prega a política partidária, mas apóia os projetos que beneficiem a humanidade. Um povo só é feliz se viver em “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Concluo assim, que falar de política e cidadania hoje no Brasil é constatar que uma grande maioria não tem a noção de que as duas coisas são pilares do que chamamos Estado Democrático de Direito, onde os cidadãos agindo politicamente provocam as transformações e lutam por seus direitos, no pleno exercício da liberdade, seja ela de expressão ou de conduta.
Isto porque há uma Constituição que lhes garante o direito de ir e vir, empiricamente ampliado o entendimento nos planos mental e material. Erra feio quem pensa que a política, para os políticos, a cidadania para os cidadãos, até porque os políticos são cidadãos e os cidadãos não podem abrir mão de agir politicamente, sob pena de passarem a sua existência delegando a outrem as suas responsabilidades e sua capacidade de reagir a qualquer tentativa de que lhes tirem os direitos fundamentais.
Ir Israel Denis - muito poderoso Grande Comendador 33º